GEOGRAFIA RURAL: DO INÍCIO AO FIM
MEMÓRIAS DE UM LAVRADOR - “UM LUIZ DA VIDA”.
EM 1982 AQUI NA REGIÃO DE CAXIAS, PERÍODO CHUVOSO E NÃO CHOVIA (EL ÑINO) MILHARES DE PESSOAS PASSAVAM FOME, PRINCIPALMENTE OS PERIFÉRICOS URBANOS E OS TRABALHADORES INQUILINOS DAS ÁREAS RURAIS. MEUS PAIS NA ÉPOCA MORAVAM NA LOCALIDADE CHAMADA ASSUBIANTE, UM LUGARZINHO UM POUCO DISTANTE DA CIDADE DE CAXIAS, QUE HOJE É ÁREA DE ASSENTAMENTO RURAL. BOM, MEUS PAIS COMO OUTRAS FAMÍLIAS MIGRARAM, NÓS FOMOS PARA SUMAÚMA, DISTANTE SETE LÉGUAS A DENTRO DEPOIS DE SOBONETE, “LUGAR DE ÍNDIO”, À MARGEM DIREITA DO RIO GRAJAÚ NO MUNICÍPIO DE BARRA DO CORDA. FORAM APROXIMADAMENTE TRÊS DIAS DE LABUTA PRA SE CHEGAR ATÉ LÁ. SUMAÚMA ERA UM LUGAR MUITO ATRAZADO APESAR DE TER MUITOS MORADORES, NEM AVIAMENTO A MOTOR TINHAM , QUANDO O PAI COMPROU UM E INSTALOU FOI UMA NOVIDADE, LEMBRO-ME COMO SE FOSSE HOJE: AS FAMÍLIAS NA FARINHADA E ATÉ MESMO DOIS CAMINHÕES ESPERANDO A CARGA. EU APESAR DE TÍMIDO ERA MUITO CURIOSO OBSERVAVA TUDO. E QUASE TUDO ERA REFLEXO DE ALEGRIA, O CHEIRO DO LUGAR, A FELICIDADE DO POVO, O CUMPRIMENTO DAS PESSOAS, AS ROTINAS DIÁRIAS DE ACORDAR BEM CEDINHO PARA IR PARA A ROÇA, MEIO-DIA ERA AS PESSOAS PASSANDO COM AS BACIAS DE COMIDA NA CABEÇA OU NOS JACÁS CARREGADO POR UM JEGUE, GERALMENTE ERA AS MULHERES APÓS O PREPARA OU CRIANÇAS QUE ESTUDAVAM PELA MANHÃ. EU IA NA CARONA, TODO EMPACOTADO, FACÃO DO LADO E A BACIA QUE APESAR DE PROTEGIDA PELA RÓDIA, A CABEÇA FERVIA QUE NEM AZEITE DE COCO EM UM TACHO DE COBRE NO FOGO.
NO DOMINGO ERA O DIA DE DESCANSO PARA OS HOMENS, UNS FICAVAM EM CASA, OUTROS JOGAVAM BARALHO E OUTROS IAM CAÇAR, PESCAR ETC. AS MULHERES, MAS RAPAZ, ARRUMAVAM ERA AS TROCHAS DE ROUPAS COLOCAVAM NOS JACÁS DOS ANIMAIS, OUTRAS LEVAVAM MESMO ERA A TROUXA NA CABEÇA E IAM PARA O RIO GRAJAÚ LAVÁ-LAS, UMACERTA VEZ QUANDO O “JUMENTO PASTOR” AVISTOU UMA ÉGUA SE DESISPEROU E MINHA MÃEZINHA E EU CAÍMOS EU FUI O PRIMEIRO POR SER MAS LEVE E ESTÁ NA GARUPA MINHA MÃE ADOEÇEU E FICOU TRÊS MESES SEM LABUTAR NO PESADO, MAS ISSO NÃO FOI NADA SE COMPARADO ÀS HISTÓRIAS QUE JÁ PASSOU NA VIDA DE IRMÃ MAIS VELHA E SEM MÃE. APESAR DE TUDO ISSO, ESTE DIA ERA O MELHOR E PIOR DA SEMANA, APESAR DE TER APENAS 7, 8, 9 ANOS PASSAVA BOA PARTE DO DIA DE CANOA, PELA BEIRA DO RIO PESCANDO, BANHAVA BEM POUQUINHO O RESTO DO DIA PASSAVA MESMO ERA DE OLHOS ÚMIDOS ASSISTINDO OS OUTROS GAROTOS BANHAREM NAQUELE PERENE RIO DE MUITAS PIRANHAS, EU PEREBENTO DE ALERGIA AOS MOSQUITOS NÃO PODIA É CLARO.
SUMAÚMA ERA ASSIM, UM LUGAR TRANQÜILO ENCAIXADO NUMA MATA DE TRANSIÇÃO COM UMA TENDÊNCIA MAIOR A SER FLORESTA AMAZÔNICA. A FAUNA E A FLORA RIQUÍSSIMA TINHAM ATÉ ANTA, CAPIVARA, MACACOS, PACA, TATU, DE TODAS AS BRENHAS, NAMBU PÉ ENCARNADO, ROXO, JAÓ E ATÉ MESMO A TONA, QUE A MINHA MÃE FALA TANTO ATÉ HOJE “AH, AQUELA LAMBÚ TONA É CARREGADA MAIS DO QUE A PACA, O PICA-PAU E ATÉ MESMO QUE A GALINHA D’ÁGUA”.
HOJE COMPREENDO AQUELAS AVENTURAS PELA QUAL PASSAMOS, MUDAMOS NO TOTAL SETE VEZES EM TERRAS ALHEIAS OU GRILADAS, HOJE SUCUMBIDO NUM LUGARZINHO INÓSPTO, MEU PAI JÁ CANSADO DE TRABALHAR LAMENTA COM SEMBLANTE ÚMIDO E FALA PELA PRIMEIRA VEZ EM PARAR, DIZ QUE CHEGOU TARDE DEMAIS, A TERRINHA, O PROJETO RURAL PARA CRIAÇÃO DE BODE, O AÇUDE MEU PRESENTE DE ANIVERSÁRIO E ATÉ MESMO QUEM SABE A ENERGIA ELÉTRICA. É, SOMOS AS MESMAS PESSOAS, TRABALHADORES RURAIS DE SANGUE E DE ALMA COM MUITO ORGULHO, PERSEGUIDOS E GUIADOS PELO DESTINO DA VIDA, O QUE SOMOS E O QUE FOMOS NÃO HÁ DIFERENÇA, POIS NUNCA TIVEMOS ESCOLHA E PODER DE TRILAR NOSSOS PRÓPRIOS CAMINHOS OU DEFAZER NOSSAS PRÓPRIAS ESCOLHAS.
Depoimento de dudumaranhense, lavrador e professor em homenagem aos meus pais: Eliza de Almeida Cunha e Luiz Pereira Cunha.
